quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Nanocontos 2 - do terror ao humor



Amava os pássaros. Possuía duas cotovias, uma calopsita e quatro canarinhos. Mas não gostava de vê-los engaiolados. Então, quebrou-lhes as asas.

* * *

Juninho ficou furioso por ter sido empurrado pelos coleguinhas no parquinho da escola. Não revidou na hora. Mas no dia seguinte, discretamente, colocou uma lâmina entre uma frestinha gasta na madeira do escorregador. 

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Subiu no telhado e começou a correr de uma ponta a outra, bem próximo do beiral, deixando a família apavorada. Fez isso sem nenhum motivo, apenas porque gostava de deixar as pessoas aflitas. 

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Dar carona a um estranho em plena madrugada e numa estrada deserta, possuía todos os ingredientes para terminar de forma trágica e desastrosa. E terminou.

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Isildinha amava cantar a plenos pulmões quando fazia faxina. Até o dia em que seu vizinho reclamou. Daí, parou de cantar. E quando o vizinho veio reclamar do mau cheiro, ela gritou a plenos pulmões: "Me deixa cantar em paz!"    

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Depois de dois meses internado, Ítalo retornou do coma. Todos notaram que seu jeito de olhar não era mais o mesmo. Seus olhos tinham agora aquela estranha expressão dos que sondaram os mistérios da morte.

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Ao final de todos os dias Grezelbina olhava para o alto e pedia perdão aos Céus por amaldiçoar os pais. E justificava-se: carregar Grezelbina vinte e quatro horas por dia não era tarefa fácil.

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Em plena luz do dia, num importante ponto turístico de uma cidade muito visitada por viajantes do mundo inteiro, um homem abriu fogo contra a multidão, matando dezenas de pessoas. Ao contrário dos demais, ele não estava ali a passeio. 

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Colhia bergamotas na bergamoteira quando foi atacada por abelhas. Por sorte não era alérgica. Mas eram tantas abelhas, tantas, que não resistiu ao ataque... e morreu.

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Maribel tinha ojeriza pela palavra ojeriza. Uma repulsa tão forte que só em pensar na palavra sendo pronunciada, fazia caretas e sentia enjoos. Um caso de difícil solução, pois embora poucos falem a palavra, ela pensava em ojeriza por todos eles.

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Etelvino aprendeu a dormir de olhos abertos e achou a experiência fenomenal. Tirava longos cochilos no escritório, na sala de aula, nas reuniões do condomínio,... sem ninguém desconfiar de nada. Mas levava um baita susto quando era "acordado" no meio do sono. 

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Cansada das noites maldormidas por causa dos roncos, chiados e flatulências de Luis Adolfo, Marluce desistiu de dormir no mesmo quarto com ele e passou a trancá-lo à noite na área de serviço. O bulldog não gostou nadinha e roeu tudo ao redor, em protesto.   




Tenho escrito tantos contos pequerruchos como estes que estou 
pensando em publicar um livro só de nanos, micros e minicontinhos. rs

10 comentários:

  1. rsrsrsssss, que loucura! A coisa começa hilária e termina macabra, dramática!
    Muito bom, adorei. Destaco o mini-conto das abelhas...pura sorte!! rss
    Beijo grande, bom fim de semana.

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  2. Oi Rosa.
    Adorei esses nanocontos macabros. Mas o que se destacou (para mim) foram os nomes dos seus personagens. De onde você os tira? São tão hilários quanto seus nanocontos.

    Faz um livro com eles, sim. E com figuras bem legais em preto e branco. Vai ficar maravilhosamente aterrorizante!

    Beijos mil! :-)

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  3. Tu também, Rosa, não estás a passeio... estás para atirar, como atiras, para todos os lados...

    Ou poderíamos dizer:
    "Rosa escrevia contos que, de tão pequeninos, lia-os sem piscar... mas de tantos que escreveu, piscou mil vezes ao ler todos reunidos em um livro!"

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  4. Que delícia de ler! Um conto melhor que o outro ;-)

    Abraços =)

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  5. E eu dizia que já não publicava há alguns dias.
    DELICIOSOS!!!
    Bfds

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  6. Muito talento para escrever contos curtos e tão contundentes. Com poucas palavras mas
    muito conteúdo.parabéns!
    um abraço

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  7. Rosa, é a segunda vez que leio os teus nanocontos, e como aconteceu com a leitura que fiz aos primeiros, fiquei fascinado com estes (Nanocontos 2). Poderia dizer que alguns deles apresentam um certo grau de crueldade, mas disso não posso reclamar porque o subtítulo é claro: “Do terror ao Humor”. Excelente, amiga gaúcha.
    Abraço.

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  8. Olá, Rosa.
    Adorei todos os nanocontos.
    O que mais gostei foi o primeiro, fiquei com tanta dó dos passarinhos. Adorei a ideia do livro dos nanocontos, com certeza vou querer tê-lo em minha estante.

    ✿Blog: Autora Marcia Pimentel✿ ✿Instagram✿ ✿Twitter✿

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  9. Olá,Rosa, boa noite,adorei os nanocontos,gostei + da Isildinha e o vizinho "chato" .Obrigado pelo carinho,bom domingo,belos dias,beijos!

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  10. Puxa Rosa isso que é talento, amiga.
    Todos nanocontos ótimos!
    Como você disse...
    Do terror ao humor!
    Amei todos!
    Beijos, um ótima semana!
    Mariangela

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