
A tranquilidade reinava na adega da
família Valduga. Fora assim, até uma certa manhã, quando um novo e inusitado
hóspede chegou, surpreendendo os atuais moradores.
— Que barulho foi esse?
— Que barulho foi esse?
— Ai, que médoc, vieram me buscar!
— Suavize-se, Amadeu, não precisa ficar bordeaux. Ele veio trazer uma garrafa e não levar, viu?
— Country Wine, olha o salton que o Marco Luigi deu de susto. Rárrárrá!
— Lovara, você que está mais próxima, conseguiu ver quem é?
— Bem que eu tentei, mas o Lacave quase Pizzato em mim.
— Viram? Humm. Colocaram ele afastado da gente. Por que será, hein?
Senhor Valduga, alheio ao farfalhar das garrafas, acomodou o nobre vinho, girou os calcanhares e saiu.
Mal ele fechou a porta e voltaram a indagar sobre o ilustre misterioso.
— Olááá!!! Qual seu nome? Quem é você? Por que ficou distante? — gritou Chalise, não aguentando mais de curiosidade.
— Silence, s'il vous plaît! Je suis, Château Lafite Rothschild.
— Hein?
O que ele está dizendo? Alguém traduz pra mim, por gentileza?
— Ele
deve ser importado, Chalise. E pelo biquinho que fez ao falar só pode ser
francês — respondeu Bartolo, tinto de ciúmes.
— Esses
ricos emergentes, vou te contar, são uns esnobes. Ao invés de valorizarem
produto nacional, ficam trazendo estrangeiros, só pra se exibirem para os
amigos — reclamou uma
garrafinha sem rótulo, instalada nas fileiras mais humildes.
Rothschild se empertigou todo, pois não estava acostumado com hostilidades. Seco, tratou de se defender, mas com elegância, avéc élégance, oui monsieur.
— Je suis o que há de melhor nos tintos bordaleses. Ao contrário de vocês, eu fui esmagado com os pés. Sou famoso. Respeitem-me e façam silêncio. Estão me perturbando! — falou o francês, num francês miscigenado pela maturação.
— Só
porque é importado, se acha melhor que nós? Que audácia! — exclamou,
Chalise, embaçada de raiva.
Rothschild nunca fora tratado por tantos casca grossa num mesmo ambiente. Esqueceu a elegância e visivelmente atijolado, porém mantendo a tonalidade rubi brilhante, partiu para o ataque.
— E
você, nem para fazer quentão serve! — disparou.
— Rárrárrá!
Não sou importada, mas sou muito requisitada, viu? — retrucou,
Chalise.
— Oui,
por menos de quinze reais, qualquer um leva você para casa — replicou.
— O
que está insinuando? Escutou isso, Bartolo? Vai deixar ele falar assim comigo?
Faça alguma coisa!!!
— Chalise,
minha uva, o francês só está de gabolices.
— Mas
é um moscatel mesmo. Que tola eu fui em aceitar seu bouquet.
E pensar que Marcus James e Chandon espumaram um dia por mim e eu recusei pra
ficar com você — choramingou, rolando para outro lado.
— Chalise,
não diga isso. Perdoa-me. Ando de miolo rosé, ultimamente.
— Eu
tenho uma safra a zelar, viu, Bartolo! Está certo que não fui esmagada com os
pés, mas venho de um parreiral digno, fique sabendo.
— Chalise,
você é tão over. Está exagerando. Nem é para tanto, vá.
— Oh,
Bartolo, quer saber? Merlot tudo entre nós.
— Acuda-me,
Frei Damião! Não sei viver sem minha uvinha — suplicou.
— Oremus,
meu jovem. Iomerê, sangue da uva tem poder. Cante-lhe uma canção. Seja mais
doce, mais suave. Chalise é adamada, pode estar naqueles dias — respondeu-lhe
o Frei.
— Pois se até a aurora Chalise não me desculpar, fugirei para a colina e cometerei vinhocídio.
— Por
mim, você pode até avinagrar. Acabou, Bartolo. Pode aclamar por todas as
videiras de todos os países, em châteaus, platôs, onde for! Basta!
Fim! — revoltou-se, Chalise.
O francês, vendo que o assunto não era mais com ele, tratou de manter-se frio. Nem por todos os barris de carvalho iria se deteriorar por aquelas cepas inferiores. Aquietou-se. Com muito requinte e fineza, ficou torcendo para que se quebrassem de inveja.
A adega silenciou novamente.
Passados vinte minutos, Chalise perguntou:
— Bartolo?
— ....
— Bartolo???
— ....
— Bartolooooooooooooooooo?
— Sim!!! Que foi?
— Você ia mesmo se vinhocidar se eu não o perdoasse? — perguntou
Chalise, empurrando Almadén que estava entre os dois.
— Sim!
— Ahh,
Bartolinho! Vem cá, vem?
E mais que depressa, ele foi.

Que Lindo conto!!!! Sua criatividade é imensa!!! E amei o final Feliz de Chalise e Bartolo!!! Parabéns! Rss... Maravilhoso, viu?!!!! Bjs, Mary Am Chef.
ResponderExcluirRosa,que magnifica inspiração sobre essa conversa entre os nobres vinhos.rs
ResponderExcluirAdorei.
Bjs e obrigada pela visita.
Carmen Lúcia.
Rosa, levei um susto quando escreveu Bordeau, pois morei 2 anos na França e essa palavra significava Bordeau. Como nunca bebi e fui para estudar não sabia que era vinho.
ResponderExcluirUma gracinha de conto
Amei.
Que Deus a abençoe
Minicontista2
Desculpa o deslise, é que aqui está um inferno de quente e já vou pra cama com o ar ligado. Essa noite fez 38 graus quase morri, minha cirurgia endureceu e dava aqueles choques. Tô dormindo em pé
ResponderExcluirBordeau- Zona kkk
Beijinhos
Minicontista2
Como não bebo, não conheço nenhum nome de vinhos e etc...Morei em Paris por 2 anos, foi uma bolsa que ganhei por ser a melhor funcionária, não posso dizer o nome.
ResponderExcluirBeijos
Minicontista2
Este conto eu li, apreciando uma taça de de "Casillero Del Diablo" - Concha y Toro
ResponderExcluirrsss, eu pensei que eu estava ficando maluquinha. Mas depois fui pegando que eram os vinhos que estavam maluquinhos, de onde você desenterrou o Frei Damião, o pobrezinho? Muito criativo esse conto, Rosa. Muito bom.
ResponderExcluirBeijinho, amiga!
Quando o vinho dá origem ao amor.
ResponderExcluirQue imaginação!
Boa semana
OI ROSA!
ResponderExcluirQUE DELÍCIA, AMIGA.
PARABÉNS PELA IMAGINAÇÃO E PELO TEXTO GENUÍNO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
"Por mim, você pode até avinagrar."
ResponderExcluirHahaha! Que delícia de texto! Meus parabéns ♥
Rosa, você trouxe alegria neste dia tão triste amiga...
ResponderExcluirQue exuberância de conto! Você é surpreendente!
Fui lendo e lembrando de todos os vinhos, o nome de cada um deles, a safra, os vasilhames onde estavam acondicionados e realmente consegui ingressar no diálogo proposto, nas viradas e nos rolamentos dos mesmos...rsrs
Ah e culminou em um final tão lindo e feliz, típico de contos de fadas e estrelados por garrafas dos mais fofos vinhos...
Maravilhoso Rosa!
Não é a toa que é uma escritora tão talentosa!
Merece todo o sucesso do mundo!
Parabéns mil vezes!!!
Beijos e uma ótima semana querida!
Ha! Que discussão gostosa de ler.
ResponderExcluirDeu até vontade de tomar um vinho.
Com certeza uma delícia de texto.
Abrçs
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Só aplaudindo querida Rosa, esta criatividade que empegou neste lindo conto com final feliz para um tim-tim.
ResponderExcluirDepois desta leitura só mesmo um leve saborear de um tinto.
Show amiga,belíssimo show da literatura.
Bjs de paz.
Um conto delicioso, onde a imaginação é das melhores colheitas...
ResponderExcluirExcelente, gostei imenso.
Bom fim de semana, querida amiga Rosa.
Beijo.
Que delicioso vinho, digo, conto! O leve e vivo mundo dos vinhos...in vino vita...in vino veritas. gostei muito e saboreei cada um deles com muito boa vontade.
ResponderExcluirum abraço
Hahahaha... quantas referências e bem colocadas!
ResponderExcluirAdorei ;-)
Olá querida amiga Rosa, td bem?
ResponderExcluirQue belo conto, confesso que fiquei com uma vontade enorme de tomar um bom vinho, mas nada de vinhos caros, gosto dos simples mesmo. Adorei o texto, ficou muito bom!
Beijos!
Olá, Rosa.
ResponderExcluirNão querendo ser redundante, e já sendo, aí está
a impressão que tive do seu conto "Escândalo na adega".
Um conto interessante, curioso e muito bom. Parabéns.
Abraços,
Pedro.
Querida Rosa
ResponderExcluirQue neste Natal você e sua família sintam mais forte ainda o significado da palavra amor, que traga raios de luz que iluminem o seu caminho e transformem o seu coração a cada dia, fazendo que você viva sempre com muita felicidade.
Beijos com imenso carinho,
Gracita
Que o espírito natalino traga aos nossos corações a fé
ResponderExcluirinabalável dos que acreditam em um novo tempo de paz , amor ,
solidariedade e acima de tudo fé que renova nossas esperanças
num mundo mais humano sem dor e sem guerra.
Meu agradecimento pela sua amizade
sua sincera amizade.
Feliz e abençoado Natal.
A você e todos da sua família e amigos.
Um abraço forte meu eterno carinho.
Voltarei a postar e visitar antes da virada
para um novo ano.
Evanir..
Oi Rosa.
ResponderExcluirTempo de agradecer a companhia e desejar mesma sintonia no novo ano.
Que haja inspiração e alegria em cada amanhecer amiga.
Meu terno abraço de paz e Feliz 2017.
Bjs de paz amiga
Um criativo e extraordinário texto, sem qualquer dúvida de uma casta seleccionada!
ResponderExcluirAdorei o requinte e a imaginação do mesmo, Rosa!
Esperando que tenha tido um fantástico Natal, na companhia dos seus, Rosa, deixo um beijinho, e os meus votos de continuação de Festas Felizes, e de um feliz 2017, repleto de inspiração, alegria, muitas realizações, bons momentos, e muita saúde!
Tudo de bom! Festas Felizes!
Ana
Olá, Rosa, como vai? Estou passando para agradecer o carinho em meu blog durante o ano, desejo que 2017 traga alegrias e muitos planos realizados! Desejo tudo de bom!
ResponderExcluirRosa, voltei para desejar-te um feliz Ano Novo,
ResponderExcluircom muito amor, saúde e paz; são meus votos
também, que realizes todos os teus projetos
no ano de 2017.
Abraços.
Pedro.
Querida amiga, onde está você? Bem, por onde anda, deverá chegar meus votos de um ano lindo, com saúde, alegria, e paz para todos nós! Muitas inspirações nos seus contos, e pouca transpiração (rs).
ResponderExcluirBeijo, querida!
Que toda a esperança, emoções,
ResponderExcluirvitórias e alegrias caiam como uma enorme
chuva de benção em sua casa
e sobre você e seus familiares.
Na passagem do ano que a luz divina
se acenda dentro de seu coração.
Desejo do fundo do coração
que a promessa do Ano Novo seja
cheia de esplendor e magia.
Deus abençoe grandemente sua vida.
Paz..Saúde..Fé ..Enfim Feliz Ano Novo.
Bjs ,..Evanir..
Obrigada pelo carinho.
Que 2017 seja um ano de paz
nesse mundo de Deus.