
Amava os pássaros. Possuía duas cotovias, uma
calopsita e quatro canarinhos. Mas não gostava de vê-los engaiolados. Então,
quebrou-lhes as asas.
* * *
Juninho ficou furioso por ter sido empurrado
pelos coleguinhas no parquinho da escola. Não revidou na hora. Mas no dia
seguinte, discretamente, colocou uma lâmina entre uma frestinha gasta na
madeira do escorregador.
* * *
Subiu no telhado e começou a correr de uma ponta
a outra, bem próximo do beiral, deixando a família apavorada. Fez isso sem
nenhum motivo, apenas porque gostava de deixar as pessoas aflitas.
* * *
Dar carona a um estranho em plena madrugada e
numa estrada deserta, possuía todos os ingredientes para terminar de forma
trágica e desastrosa. E terminou.
* * *
Isildinha
amava cantar a plenos pulmões quando fazia faxina. Até o dia em que seu vizinho
reclamou. Daí, parou de cantar. E quando o vizinho veio reclamar do mau cheiro,
ela gritou a plenos pulmões: "Me deixa cantar em paz!"
* * *
Depois de dois meses
internado, Ítalo retornou do coma. Todos notaram que seu jeito de olhar não era
mais o mesmo. Seus olhos tinham agora aquela estranha expressão dos que
sondaram os mistérios da morte.
* * *
Ao final de todos os dias Grezelbina olhava para
o alto e pedia perdão aos Céus por amaldiçoar os pais. E justificava-se:
carregar Grezelbina vinte e quatro horas por dia não era tarefa fácil.
* * *
Em plena luz do dia, num importante ponto
turístico de uma cidade muito visitada por viajantes do mundo inteiro, um homem
abriu fogo contra a multidão, matando dezenas de pessoas. Ao contrário dos demais, ele não
estava ali a passeio.
* * *
Colhia bergamotas na bergamoteira quando foi
atacada por abelhas. Por sorte não era alérgica. Mas eram tantas abelhas,
tantas, que não resistiu ao ataque... e morreu.
* * *
Maribel tinha ojeriza pela palavra ojeriza. Uma
repulsa tão forte que só em pensar na palavra sendo pronunciada, fazia caretas
e sentia enjoos. Um caso de difícil solução, pois embora poucos falem a
palavra, ela pensava em ojeriza por todos eles.
* * *
Etelvino aprendeu a dormir de olhos abertos e
achou a experiência fenomenal. Tirava longos cochilos no escritório, na sala de
aula, nas reuniões do condomínio,... sem ninguém desconfiar de
nada. Mas levava um baita susto quando era "acordado" no meio do
sono.
* * *
Cansada das noites maldormidas por causa dos roncos,
chiados e flatulências de Luis Adolfo, Marluce desistiu de dormir no mesmo
quarto com ele e passou a trancá-lo à noite na área de serviço. O bulldog não
gostou nadinha e roeu tudo ao redor, em protesto.

Tenho escrito tantos contos pequerruchos como estes que estou
pensando em publicar um livro só de nanos, micros e minicontinhos. rs
rsrsrsssss, que loucura! A coisa começa hilária e termina macabra, dramática!
ResponderExcluirMuito bom, adorei. Destaco o mini-conto das abelhas...pura sorte!! rss
Beijo grande, bom fim de semana.
Oi Rosa.
ResponderExcluirAdorei esses nanocontos macabros. Mas o que se destacou (para mim) foram os nomes dos seus personagens. De onde você os tira? São tão hilários quanto seus nanocontos.
Faz um livro com eles, sim. E com figuras bem legais em preto e branco. Vai ficar maravilhosamente aterrorizante!
Beijos mil! :-)
Tu também, Rosa, não estás a passeio... estás para atirar, como atiras, para todos os lados...
ResponderExcluirOu poderíamos dizer:
"Rosa escrevia contos que, de tão pequeninos, lia-os sem piscar... mas de tantos que escreveu, piscou mil vezes ao ler todos reunidos em um livro!"
Que delícia de ler! Um conto melhor que o outro ;-)
ResponderExcluirAbraços =)
E eu dizia que já não publicava há alguns dias.
ResponderExcluirDELICIOSOS!!!
Bfds
Muito talento para escrever contos curtos e tão contundentes. Com poucas palavras mas
ResponderExcluirmuito conteúdo.parabéns!
um abraço
Rosa, é a segunda vez que leio os teus nanocontos, e como aconteceu com a leitura que fiz aos primeiros, fiquei fascinado com estes (Nanocontos 2). Poderia dizer que alguns deles apresentam um certo grau de crueldade, mas disso não posso reclamar porque o subtítulo é claro: “Do terror ao Humor”. Excelente, amiga gaúcha.
ResponderExcluirAbraço.
Olá, Rosa.
ResponderExcluirAdorei todos os nanocontos.
O que mais gostei foi o primeiro, fiquei com tanta dó dos passarinhos. Adorei a ideia do livro dos nanocontos, com certeza vou querer tê-lo em minha estante.
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Olá,Rosa, boa noite,adorei os nanocontos,gostei + da Isildinha e o vizinho "chato" .Obrigado pelo carinho,bom domingo,belos dias,beijos!
ResponderExcluirPuxa Rosa isso que é talento, amiga.
ResponderExcluirTodos nanocontos ótimos!
Como você disse...
Do terror ao humor!
Amei todos!
Beijos, um ótima semana!
Mariangela