segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Nanocontos - do terror ao humor



Ele caiu em si e nunca mais se levantou.

* * *

Tinha fome de Glória! Devorou-a. Depois, sem ela, acabou morrendo de inanição.

* * *

Apressado, cortou caminho por um beco de má fama, e não chegou do outro lado.


* * *

Passou a ter fortes dores nas costas. Fez todo tipo de exame e não descobriu o motivo. Um dia, pode jurar ter visto no espelho um vulto sobrenatural pendurado em seus ombros. Estarrecido, compreendeu o motivo das dores nas costas.


* * *

Anastácia tomou remédio para não roer mais as unhas. E deu certo! Alguns dias depois, uma a uma, suas belas unhas começaram a cair.


* * *

Morava há anos numa casa assombrada, sem saber. Certa noite, acordou cercado por figuras fantasmagóricas e foi puxado pelos pés e sacudido violentamente nos ares e jogado contra as paredes e atirado de volta sobre o colchão. Então, soube. 


* * *

Isolou-se tanto para escrever um novo livro que perdeu os poucos leitores que tinha. E quando finalmente lançou sua obra, ninguém lembrava mais dele.


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Era uma vez um trapezista de circo que saltava sem rede de proteção. Era uma vez um trapezista de circo.


* * *

Ela apaixonou-se pelo carteiro e passou a escrever cartas na esperança de revê-lo. Tudo em vão. Apesar disso, continuou escrevendo. Acabou seduzindo a si mesma e vivendo o seu melhor caso de amor.  


* * *

Zibeline tinha voz de veludo, mãos macias como seda, dentes brancos como algodão, mas tinha fetiche em ser tratada como pano de chão.


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Desde o bercinho Natanael sofria de riso frouxo. Os pais fizeram de tudo para que ele aprendesse a controlar as risadas desenfreadas. Mas quando viram que não tinha mesmo jeito, desistiram, e passaram a rir com ele.


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No zoo, Hercílio viu pela primeira vez um avestruz e ficou encantado com as feições simpáticas da ave. A segunda vez foi numa visita a uma fazenda e levou um corridão tão brabo que ficou com um pé atrás. A terceira vez, folheando uma revista, tratou logo de virar a página bem depressa.


* * *  

Acidentalmente ele encontrou num livro a palavra 'muxoxo' e achou a coisa mais querida. Tentou inseri-la em suas falas diárias mas desistiu porque ninguém entendia o significado. Daí, fez um muxoxo e devolveu a palavra ao livro.


* * *

Astrogildo tinha 20 anos quando passou a sonhar que morreria de forma trágica. Os anos foram passando, passando... Hoje com 96 anos ele nem lembra mais disso.






Espero que tenham gostado dos meus nanocontos, amigos.

Ótima semana a todos e obrigada pelas visitas ao blog!



15 comentários:

  1. uma leitura ótima... criativa e gostosa de ler.
    Um abraço

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  2. rss, mas eu adorei, Rosa! Gostaria de fazer uma seleção dos melhores, mas não deu; todos são ótimos, uns de tão dramáticos chegam a ser hilários.
    Leitura gostosa.
    Beijo pra você. Uma ótima semana.

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  3. Adorei,Rosa! Gosto de nanocontos! Mostram astúcia e criatividade! bjs, chica

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  4. Bom dia, Rosa!!

    Nada fácil escrever muito com poucas palavras! E ficaram excelentes!
    Destaco os meus preferidos: do pobre homem que tinha dores nas costas...(cruzes!), do outro, coitado, que morava numa casa assombrada sem saber...e no final ficou sabendo! Adorei a ironia!rsrs E do homem que encantou-se pela palavra muxoxo, que querido!
    Amo contos de terror, mesmo não sendo muito corajosa...rsrs
    Beijos, querida Rosa!!!

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  5. Excelente poder de síntese, Rosa! Muito bom!
    Beijo

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  6. Olá Rosa, um show magnifico seus nanos.
    Este poder de síntese aliado ao humor sem dor é fantástico.
    Alimente-nos mais e nos inspire a esta bela arte de síntese.
    Gostei.
    Um carinhoso abraço.

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  7. Que ótimo Rosa, amei ler esta tua imensa criatividade!
    Beijos!
    Mariangela

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  8. Oi Rosa,
    Adorei
    Ri muito, só você...
    Beijos
    Lua singular

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  9. Olá Rosa.
    Gostei demais dos seus criativos e inteligentes nanocontos. É uma leitura agradável, que não sse quer terminar tão cedo. Se tivesse que escolher a melhor, não saberia dizer qual é ela. Todas são da melhor qualidade. Parabéns.
    Abraço.
    Pedro.

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  10. Oi, Rosa!
    Adorei os nanocontos. Você como sempre super inspirada.
    Parabéns!

    Obrigada, Rosa, pela ajuda com a divulgação dos meus livros.
    Vou indicar os seus no meu blog também.

    Abrçs

    Blog: Autora Marcia Pimentel

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  11. Rosa.... estou absolutamente encantado... ainda mais com esse, por toda a relação que tenho com
    O CIRCO:

    "Era uma vez um trapezista de circo que saltava sem rede de proteção. Era uma vez um trapezista de circo."

    Simplesmente, maravilhosos...!

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  12. Rosa, como está amiga, tudo bem?

    Puxa, vejo que você continua surpreendentemente inspirada, pois sua escrita beirou à perfeição!
    Eu ri com alguns, me emocionei com outros e na maioria, um sorriso saiu dos meus lábios tentando decifrar como consegue fazer algo tão astucioso!!

    Todos são ótimos e impossível dizer qual o melhor!
    Você se superou querida!
    Muito obrigada por essa obra!!

    Um grande beijo e desejos de um final de semana maravilhoso!! :)))

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  13. Oi Rosa,
    Eu vou começar a escrever a contar contos em séries bem espaçadas." Vai ver que da"kkk.
    Beijos
    Lua Singular

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  14. Quanta diversidade, talento e criatividade, nesta série de micro contos, Rosa!...
    Adorei todos!!!! Confesso que tive que ir ver o significado da palavra muxoxo... :-D
    Não saberia escolher o meu preferido!... Que trabalho fantástico!
    Deixando um beijo, e agradecendo sua gentil presença, por lá no meu canto, mesmo por esta altura, em que andarei ainda a meio gás, pela Net, ao longo de Setembro...
    Feliz semana! Tudo de bom!
    Ana

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