sábado, 17 de janeiro de 2015

O carniceiro fugitivo


Stanley saltou da cama, pegou suas roupas e pulou a janela numa velocidade inacreditável. Marcinha tinha jurado que o marido iria ficar fora por uns dias. E na melhor parte, o cara aparece! Em disparada, atravessou o pátio, pelado. Passou feito um raio pelo corredor lateral. Parou num canto. Vestiu-se rápido. Torceu para o sujeito não vir atrás dele. Entrou no carro, ainda com a camisa aberta. Recuperou o fôlego. Pisou fundo e vazou dali. 

Bem mais adiante, reduziu a marcha e encostou.


A respiração voltava ao normal, quando um cara surgiu do banco de trás e o atacou com uma faca. Um assalto!... Era só o que faltava. Droga! Na pressa para se encontrar com Marcinha, esquecera de trancar o carro. "Calma, velho, calma! Entrega o carro, dinheiro, celular, tudo, sem reagir" - pensou Stanley.

Tirou a chave da ignição e virou-se para entregar, julgando tratar-se de um roubo.

Stanley não sabia que o homem em seu carro era um fugitivo perigoso, condenado por vários homicídios, praticados com requintes de crueldade. O sujeito não queria seu veículo. Queria fatiá-lo, deixando sua marca registrada.

Ao esticar a mão com a chave, levou a primeira facada. O golpe inesperado o fez gritar de dor. Tentou abrir a porta para fugir e recebeu outra estocada. Buzinou, tentando chamar a atenção de alguém.

A situação não cheirava nada bem.

Furioso, o assassino moveu o braço, deu uma chave de pescoço em Stanley e enfiou a lâmina na barriga, com uma força incomum. Sem retirar a faca, abriu um corte profundo, de ponta a ponta. Depois sim, tirou, lambendo o sangue da lâmina. Inclinou-se e esfaqueou novamente, desta vez em diagonal, desenhando uma cruz.

Stanley, a essa altura, nem se mexia, quase morto, apavorado, cagado de medo.

O assassino, por conta daquela buzinada e temendo ser pego, deu-se por satisfeito. Desceu do carro e desapareceu nos becos escuros.

Entre a vida e a morte, Stanley moveu os dedos em câmera lenta e apertou a buzina. Ficou segurando as entranhas que ameaçavam sair para fora.

Aguardou por socorro.

E que não demorasse muito, porque suas mãos já estavam morrendo, enterradas em suas tripas.      

12 comentários:

  1. OI ROSA!
    MUUIITTTTO BOM, ADORO TEUS CONTOS, TE CONFESSO QUE LI QUASE SEM RESPIRAR.
    PARABÉNS AMIGA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  2. Oi Rosa
    Seu conto é tão envolvente que li sem piscar. Parabéns pela fabulosa inspiração
    Um ótimo domingo para você
    Beijos

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  3. Olá, Rosa
    Boa noite,Parabéns pelo miniconto...que noite terrível para Stanley, primeiro quase caiu nas mãos do marido traído e depois caiu nas mãos do fugitivo carniceiro....
    agradeço pelo carinho,um abençoado e Feliz 2015, para ti e familiares,bom domingo,beijos !

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  4. Stanley em seus descaminhos , buscou prazer e ficou à mercê de um louco sanguinário prazer do outro... a palavra atrás da palavra no sentido oculto.
    Um abraço

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  5. Poxa que dia! Se avinhasse nem sairia de casa. Uma serie de acasos em serie. Abraço.

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  6. Que história incrível!... Coitada da Marcinha ou melhor, coitado do Stanley. Eu que não queria estar na pele dele: foi buscar prazer e veja no que deu? Espero, com ansiedade, a continuidade que presumo tenha.
    Abraço, nobre e admirável escritora.

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  7. Olá,

    Estou te seguindo..Pode me seguir também?

    www.ylovelivros.blogspot.com

    Obrigada.

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  8. Coitado do Stanley, ferido,
    sofrendo de tantas dores
    no caminho surpreendido
    por causa doutros amores!

    Tenha uma boa noite amiga Rosa Mattos, um abraço.
    Eduardo.

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  9. ⋰˚هჱܓ


    Muito tétrico!!!!

    Boa semana com tudo de bom!!!
    Beijinhos.
    ✿ه° ·.
    ⋰˚هჱ

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  10. Talvez tenha sido um tipo de punição moral para Stanley ou tenha sido somente a fatalidade do acaso, de qualquer forma, impressiona o modo envolvente e frenético com que conta a história, Rosa.

    Adorei!! Agradeceria imensamente se pudesse visitar o meu blog e deixasse sua opinião sobre algum conto escrito por mim, seria uma honra receber a opinião de uma escritora renomada como você ;-)

    O Mundo Em Cenas

    Beijos

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  11. Bom dia Rosa, primeira vez no teu blog. Gostei bastante, eu adoro ler contos e a forma com que você escreve me chamou a atenção.

    Ótimo o desenrolar da história, o final é surpreendente. Consegui sentir no arrepiar da pele a frieza do assassino, principalmente ao lamber o sangue da lâmina. Sensacional!

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  12. Ótimo fim de semana!
    Beijinhos.
    ⋰˚هჱ

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